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segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

 PROFISSIONAIS DE SEGURANÇA II: COMO A ENGENHARIA DE RESILIÊNCIA PODE TRANSFORMAR A PRÁTICA DE SEGURANÇA 

Veja os conceitos abaixo, de acordo com o artigo publicado por Provan et al (2020).

Segurança I: gestão de segurança baseada no controle centralizado que visa alinhar e controlar a organização e seu pessoal por meio da determinação central do que é seguro, baseado na identificação de perigos e controle de riscos. A partir da definição do que é seguro (práticas seguras) se estabelece controles (regras, procedimentos e treinamentos) na tentativa de alinhar (padronizar) o trabalho operacional (real) a este plano ideal (imaginado) de conformidade.  Acredita-se que os acidentes são resultados dos desvios entre o imaginado e o real e se investiga as causas para eliminar tais desvios, inserindo mais controles na tentativa de estabelecer o que é considerado como práticas seguras. A liderança é  responsável por determinar as práticas seguras e os trabalhadores de seguirem os controles impostos, podendo recusar a realização da tarefa e/ou apontar desvios para que a liderança corrija (revise, atualize) os controles existentes. Há a busca do comportamento seguro (vigilância de possíveis desvios) e a definição da cultura de segurança da organização.

Papel do profissional de segurança na Segurança I: verificar conformidades com políticas e procedimentos, identificar perigos e avaliar riscos no local de trabalho, desenvolver políticas da empresa, elaborar procedimentos e implantá-los, ministrar treinamentos e dar orientações, realizar inspeções físicas, realizar auditorias de comportamento, investigar incidentes e desvios.

resiliência, em termos de segurança do trabalho, pode ser definida como a sua capacidade de antecipar, de detectar precocemente e de responder adequadamente a variações do funcionamento do sistema no que diz respeito às condições de referência, visando minimizar os efeitos sobre a estabilidade dinâmica (DANIELLOU et al, 2013).

A engenharia de resiliência, aplicada a segurança do trabalho, vem sendo amplamente utilizada como uma alternativa às abordagens tradicionais de gestão de saúde e segurança do trabalho, na medida em que adotam princípios como os seguintes: o comprometimento da alta direção com a segurança e saúde, a aproximação entre o trabalho prescrito, o monitoramento proativo, o gerenciamento do trade-off entre produção e segurança, a visibilidade dos limites dos trabalho seguro e a capacidade de adaptação à variabilidade do ambiente (WREATHALL, 2006, apud SREMIN et al, 2012).


Segurança II: nova visão da gestão de segurança (mudança de paradigma) baseada na adaptabilidade guiada que visa permitir que a organização e seu pessoal se adaptem com segurança a situações e condições emergentes. O foco na descentralização é o pilar fundamental desta teoria, que defende que a Segurança I possui suas limitações e não é suficiente para lidar com a complexidade operacional real. A ideia é complementar a Segurança I, implantando a teoria da engenharia de resiliência, com a adaptabilidade guiada como estratégia da crescente complexidade das organizações modernas.


A adaptabilidade guiada consiste em quatro capacidades: (1) antecipação; (2) prontidão para responder; (3) sincronização e; (4) aprendizagem proativa, detalhados a seguir.

*Antecipar cenários futuros permite que a organização monitore as condições e ameaças futuras associadas a este cenário, bem como crie recursos e capacidade de resposta. 

*A organização deve estar pronta para responder com disponibilidade de recursos flexíveis para compensar demandas adicionais previstas e imprevistas. Ela apoia a flexibilidade dos processos operacionais para permitir respostas adaptativas às condições locais. O trabalhador deve ter autonomia para tomar decisões em tempo real, exigindo uma segurança psicológica (sem medo de tomar a decisão e nem julgamentos, repreensões, etc).

*Sincronizar para sentir e responder efetivamente às questões emergentes, dados e informações de forma livre, dentro e fora da organização. Oferece a oportunidade de entender a mudança e até que ponto as operações permanecem seguras ou necessitam de uma ação coordenada para responder às estas mudanças. Proporciona que diferentes partes da organização compense a tensão inesperada de outra área.

*Na aprendizagem proativa a organização busca entender onde estão as suas fragilidades e tomam medidas para preservar as margens de segurança. Ela aprende com as operações reais, fornecendo um suporte continuo para que os trabalhadores na linha de frente sejam bem sucedidos. Adotam uma visão sistemática para entender e gerenciar a segurança dos trabalhadores e da tecnologia, com ciclos adaptativos de trabalho.


Papel do profissional de segurança na Segurança II: para apoiar o modo de adaptabilidade guiada, deve-se: (1) explorar o trabalho diário para entender as lacunas entre o trabalho imaginado e o real; facilite a atualização dos modelos de riscos; (2) apoiar as práticas locais e equilibrar as demandas de trabalho das equipes da linha de frente; (3) gerar ações para reduzir conflitos de metas entre produção, custo e segurança; negociar a redistribuição de recursos operacionais; (4) facilitar o livre fluxo de dados e informações além dos limites organizacionais; (5) gerar cenários operacionais futuros por meio do monitoramento de ameaças internas e externas e vulnerabilidades do sistema; (6) facilitar o julgamento de sacrifício por segurança; promover uma lente de segurança sobre todo o sistema, gerando uma devoção pela segurança ao lado dos outros objetivos da organização; (7) facilitar o processo de aprendizagem tanto na vida organizacional diária quanto em eventos inesperados.


Referências bibliográficas:

PROVAN, D. J. et al. Safety II professionals: how resilience engineering can transform safety practice. Journal Elsevier, 2020. Acesse o artigo aqui.

DANIELLOU, F. et al. Fatores Humanos e Organizacionais da Segurança Industrial: um estado da arte. FONCSI, 2013. Veja mais aqui.

SREMIN, M. et al. A engenharia de resiliência com foco na saúde e segurança do trabalho. 2o. Coneprosul, Joinville, 2012. Acesse aqui o artigo.


Veja também:

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Conceito de segurança em ação 

Fatores humanos e organizacionais na segurança 

Modelo do queijo suíço 

HOP - Desempenho Humano e Organizacional 




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